Caldas tem a 1ª comunidade quilombola reconhecida pelo governo
20.11.2024
Moradores do Barreirinho, carregam com orgulho as histórias de luta dos antepassados.Pela primeira vez na história, o governo federal reconheceu como quilombola uma comunidade que fica no Sul de Minas. Os moradores do Barreirinho, em Caldas (MG), carregam com orgulho as histórias de luta dos antepassados.
A felicidade e o orgulho da Rosângela e da Ana Paula tem explicação. Foram elas que iniciaram o trabalho para que a comunidade do Barreirinho fosse reconhecida como quilombola. Ideia que surgiu na escola onde trabalham.
"Aí a gente foi junto com o Palmares para tentar a certificação para eles, que até então não tinha. E a comunidade era praticamente isolada aqui no nosso município. E aí a partir daí, com essa documentação, com o apoio do prefeito na época, do governo, a gente conseguiu dar o pontapé inicial", disse a vice-diretora da escola, Ana Paula de Oliveira.
Depois disso, vários agentes políticos e de instituições se uniram. E agora, mais de dez anos depois, o local foi reconhecido oficialmente como uma comunidade quilombola, que são povos descendentes de africanos escravizados e que até hoje mantêm tradições culturais, de subsistência e religiosas.
"A partir de agora, a comunidade dos Barreirinhos começa a acessar direitos previstos por lei. Acesso à saúde, acesso à assistência social, acesso a leis públicas. Então é esse trabalho que a gente começa agora a organizar com eles. Estamos sempre nesse trabalho feito em conjunto com os anseios e necessidades da comunidade", explicou a ativista socioambiental, Marina Rosa.
"Eles estão com falta ainda de médicos, de auxílio para doença, de algumas infraestruturas, mas eu acredito que agora, com a certificação, tudo vai melhorar, tudo vai mudar e a gente está feliz e vamos continuar esse trabalho
Se Deus quiser, ainda vamos trazer muita coisa boa para o Barreirinho", disse a professora Rozângela Godinho.
Na comunidade, com sete casas e vinte moradores, encontramos pessoas como a Marcineia. Neta de escravizados, ela mora a vida inteira no Barreirinho. Atualmente, além de trabalhar na lavoura, faz salgados e sabonetes artesanais para vender.
"Nesse lugar aqui eu já trabalhei a troco de um ovo por dia. Hoje em dia já não acontece mais isso. A gente foi arrumando uns amigos, foi ajudando a gente, sabe? A gente já passou muita fome aqui", disse a lavadora e artesã, Marcineia da Silva.
Ser reconhecida como comunidade quilombola traz mais esperança a esses moradores.
"Espero que Deus nosso, nosso Senhor Jesus Cristo, continue nos ajudando, nos abençoando. Quem sabe com isso acaba tanta fome, tanta falta de recursos como um médico para nós, uma coisa ou outra, porque nós não tem aqui, nós não tem", disse Marcineia.
E a história da comunidade Barreirinho virou filme. Duas produtoras culturais de Caldas se encantaram com a história dos moradores lá da comunidade quilombola e decidiram registrar essa história em vídeo. O documentário Colcha de Retalhos foi lançado recentemente. E agora, na semana da Consciência Negra, é apresentado para estudantes da cidade.
A Marcineia, além de ser produtora cultural do filme, é a grande protagonista. O documentário foi produzido por meio da lei Paulo Gustavo de Incentiva Cultura.
"Essa história é contada também para celebrar a vida dessas pessoas, para celebrar a cultura, os modos de fazer, os saberes ancestrais que são preservados até hoje. E hoje a comunidade se encontra numa situação muito melhor em relação a tudo que eles já vivenciaram. É a primeira comunidade do Sul de Minas a ser certificada enquanto uma comunidade quilombola. Então é um sinal de que essa luta tem tido frutos, tem tido resultados, uma conquista e garantia de direitos desse povo", disse a produtora do documentário, Talita do Lago Anunciação.
O reconhecimento como comunidade quilombola e o documentário são iniciativas que trazem mais visibilidade a esse povo, que há décadas luta por direitos e ainda tem muito a conquistar.
"A comunidade sendo reconhecida, ela tem acesso a alguns direitos fundamentais essenciais, no campo da saúde, no campo da organização, no campo da organização econômica, da produção, no campo do ensino, da educação, mas mais do que tudo é o reconhecimento de uma história, é o reconhecimento de uma população que contribuiu e muito para o desenvolvimento do nosso município", disse o presidente da Câmara de Vereadores de Caldas, Daniel Tygel.
"O que precisa ter mesmo é conquistar o nosso espaço, moço, porque aqui tem lugar que nós vai, que nós somos bem recebidos, mas tem lugar que nós não somos não. O fato é de nós ser a área mais pobre da redondeza é a nossa aqui, sabe? Muitas vezes a gente depende até do Cras pra se alimentar. Mas eu espero que isso mude muito. Se Deus quiser, eu tenho fé", completou a lavradora Marcineia da Silva.
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